sábado, 18 de dezembro de 2010

Mal entendido

SENHOR: Não seja um adulador relutante
nem um censor avinagrado.
Apenas conte as coisas como elas são.

JACQUES: Não é facil. Afinal, não temos
cada um de nós o seu próprio caráter,
os seus próprios interesses, gostos e paixões,
de acordo com os quais ou exageramos ou
atenuamos todas as coisas ?
"Contar as coisas como elas são", você diz !
É possível que isso não ocorra nem duas vezes
por dia em uma grande cidade.
E por acaso a pessoa que escuta está mais bem
preparada para ouvir do que a que cala ? Não.
É por isso que é difícil acontecer duas vezes
num mesmo dia, em toda uma grande cidade,
de as palavras de alguém serem compreendidas
do mesmo modo que foram ditas.

A vida, meu caro senhor, é uma sequência
 de mal-entendidos.
Existem os mal-entendidos do amor,
os mal-entendidos da amizade,
os mal-entendidos da política, das finanças,
da Igreja, do direito, do comércio, das mulheres,
do marido...

DENIS DIDEROT  (1713-1784) Filósofo francês
Jacques the fatalist. Harmondsworth 1986. Pág 64.

Nenhum comentário:

Postar um comentário